Sou Jesus, mas não faço milagres!

Esta semana foi anunciado com grande pompa e circunstância o regresso de Jorge Jesus ao Sport Lisboa e Benfica. O treinador que encantou o Brasil voltou ao sitio onde ganhou os primeiros títulos de campeão na carreira. Títulos esses que estavam "humildemente" expostos na grandiosa cerimónia de apresentação que foi preparada para o "Mister". Até cartolinas com a informação das finais perdidas da Liga Europa foram colocadas.
Sinais dos tempos, em que ser finalista vencido é exibido como um troféu. Mas adiante. 

O Benfica teve nos últimos anos um paradigma de aposta na formação como base para o sucesso. As escolhas de Rui Vitória e Bruno Lage para treinadores foram encaradas pela administração como naturais dadas as capacidades evidenciadas por ambos os técnicos em lançar jovens da "cantera" e em conseguir tirar o melhor proveito desses mesmos jogadores, também por terem no currículo passagens pelas equipas de formação do Benfica. 
Esta aposta foi a bandeira do actual mandato do actual presidente Luís Filipe Vieira.
Frases como "a espinha dorsal da selecção portuguesa será do Benfica" ou os "15 jovens dava para formar um plantel na 1ª Liga e não sei se não lutavam pelo título" ficaram na memória dos adeptos Benfiquistas. Mas em tempos de dificuldade é que se percebe se existe realmente um projecto ou apenas uma "navegação à vista". 

Com efeito, o Benfica perdeu dois dos três últimos campeonatos para o seu grande rival - FC Porto. Como se, por si só, perder campeonatos não fosse mau o suficiente, os Dragões atravessam uma fase complicada em termos financeiros, tendo inclusive a UEFA em linha de mira no que ao fair-play financeiro diz respeito. Isto tudo, com um Benfica que se diz com grande saúde financeira, atravessando a melhor fase da história nesse campo e vendendo jogadores por valores absolutamente irreais para o mercado português (palavras da Administração da SAD). 

Mas em ano de eleições, todos os votos contam. E como também se sabe, os títulos valem votos. 
O Benfica desperdiçou uma vantagem de 7 pontos no campeonato em relação ao Porto, perdeu a taça de Portugal também contra o mesmo rival, mostrando uma debilidade há muito não vista. A prestações europeias têm sido uma desilusão e o plantel parece perder qualidade a cada ano que passa. 
Com todos estes ingredientes, Luís Filipe Vieira começou a perceber que a sopa se tinha estragado. E só um homem conseguiria fazer uma nova a tempo de servir o jantar em Outubro. 
Esse homem é Jorge Jesus

O português que conquistou o Brasil e levou o Flamengo ao topo da América do Sul decidiu que tinha chegado a hora de voltar a Portugal. Como se sabe, Jesus tem uma forte ligação à família e amigos pelo que seria natural e de esperar que mais cedo ou mais tarde, regressasse para treinar um dos três grandes. Talvez não esperasse é que fosse tão rápido. Mas as circunstâncias assim o exigem. É que quem lhe deu a oportunidade em 2009 está em apuros. 

Assim, já está em marcha a revolução do "amadorense". Gilberto já chegou para a lateral direita, jogador ex-Fluminense de 27 anos e com as características que JJ gosta num lateral - altura, forte fisicamente, com grande rotação. 
Tudo indica que se seguem Everton "Cebolinha", um dos maiores craques do Brasileirão e jogador de selecção brasileira. 
Waldschmidt, alemão de 21 anos que joga a segundo avançado e tem uma qualidade tremenda. 
Leandro Cabrera, central uruguaio de 29 anos, esquerdino e um amor antigo de Jesus. 
Há ainda a suposta cereja no topo do bolo. Edison Cavani. O bombardeiro Uruguaio, grande avançado de dimensão mundial, acabou o seu contrato com o PSG e tem proposta do Benfica. Os 33 anos de idade que estão no seu BI nada dizem. É uma estrela planetária que faria a diferença em qualquer clube do mundo. 

Com todos estes ingredientes e a confirmarem-se estas contratações, sugiro aos leitores que no fim do mercado se faça a comparação dos planteis do Benfica dos últimos anos com o deste ano. 
Aqui também o farei. 

Mas deixo já uma nota: mesmo sendo Jesus, não há milagres.

Com tudo isto, Luís Filipe Vieira acabou por dar um mortal encarpado à retaguardo face às declarações dos últimos anos. O projecto da formação foi abandonado e o que se vê é uma tentativa de apetrechar a equipa com os melhores jogadores que o dinheiro do Benfica pode contratar. É preciso ganhar já, é preciso ganhar ontem, é preciso entrar na Champions (passando as duas eliminatórias) e é preciso apresentar um futebol de qualidade.
Com Jesus e com esta matéria prima, não tenho dúvidas que a qualidade estará garantida. Veremos o resto. E veremos se chegará para vencer as eleições em Outubro. 














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