Vamos abolir o Futebol?

 Não, não vamos abolir o futebol. Porquê? Por varias razões mas principalmente porque felizmente não temos capacidade para o fazer. Mas vamos então pensar numa subquestão à que o titulo nos apresenta: o que ganharíamos e perderíamos como sociedade se o futebol profissional esticasse o pernil?

 

... não senhor leitor, não quero acabar com o todo o futebol. Alias não quero abolir um único toque de bola. Porque o que se passa dentro das quatro linhas é emotivo e positivo. Já o que se passa fora do campo isso sim devia ser reformulado ou podia levar um corte não pela raiz mas pelos ramos para renascer melhor e sem os mesmos erros.

O futebol em Portugal é visto como a matéria mais importante das matérias mais importantes. Em qualquer canto se fala de futebol. Em todas as reuniões no trabalho se mandam piadas sobre os clubes dos colegas. Portugal vive muito sobre o que se passa no futebol. Mas isto tem um problema: ficamos dependentes dele!

O futebol está entranhado na nossa sociedade e é usado para tudo: pessoas decidem em quem votar, que cerveja beber, que café ir e até com quem falar com base no futebol, mais concretamente com base no clube do amigo, do dono do café, na marca de cerveja que patrocina o clube ou no clube do candidato. As raízes futebolísticas são tão fortes que os casos em justiça mais mediáticos têm o futebol ou clubes ao barulho. 

Não vou voltar a falar dos exemplos de Viera e do "seu" Benfica. Têm outros artigos para isso. Digo apenas que está mais que provada a promiscuidade entre futebol e justiça. A nível europeu existem também avaliações sobre o risco de branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo no sector do futebol profissional. Como é disto neste relatório da união europeia, a complexa organização do futebol profissional e a falta de transparência criaram um terreno fértil para o uso de recursos ilegais. Quantias questionáveis de dinheiro, sem retorno ou ganho financeiro aparente ou explicável estão felizmente a ser investigadas. 

Mas não é apenas na justiça. Como se está não bastasse já, temos casos de "políticos" que crescem com base em comentário futebolístico apoiando o maior clube português. Curiosamente ou não, o clube nunca se afastou deste e do seu partido.

Mas há mais, muito mais. E toda a gente sabe disso. Mais um exemplo dos problemas do futebol em Portugal: a guerrilha entre os clubes portugueses que passa para os adeptos e que osmoticamente afeta outros sectores, tornado-nos cada vez mais distantes nas nossas opiniões e incapazes de argumentar com as pessoas do outro lado. Os clubes lutam de forma antidesportiva. Curiosa esta palavra não é? Os clubes não cumprem o espírito desportivo. Espírito desportivo esse que se reza principalmente pelo cumprimento das regras e respeito pelo adversário.

Em suma, o futebol profissional faz parte da cultura europeia. Não vai morrer porque é um desporto amado pelos jovens. O clube da terra merece continuar a jogar e a ter adeptos nos seus pelados. O problema existe sim no topo da cadeia, na elite do futebol nacional, onde a transparência é pouca para o poder que existe. Por outro lado existe um problema na competitividade extrema, nas guerrilhas, nas claques... O futebol afeta muito mais do que se imagina. Se não for o futebol poderia muito bem o basquetebol, o hóquei ou qualquer outro desporto. O importante é criar limites mas que os nossos desportos e a nossa cultura não afetem a nossa sociedade.

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