Fazendo muito com pouco: A mestria de Sérgio


Finda a época 2019/2020 e com a próxima temporada já aí à porta devido à sobejamente conhecida situação pandémica mundial, os clubes e suas estruturas não perdem tempo na preparação dos planteis. A definição rápida das entradas e saídas poderá ser a chave para um inicio de campeonato consistente, dado que nem todos conseguirão fazê-lo. Quem tem de disputar pré-eliminatórias das provas europeias vê esse tempo escassear ainda mais. 

O recém-sagrado campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal, FC Porto, começou desde já a preparar o regresso aos relvados e garantiu no imediato a contratação de Carraça - lateral direito, ex-Boavista - e Cláudio Ramos - guarda-redes, ex-Tondela. Dois jogadores portugueses e perfeitamente enquadrados na realidade do campeonato com muitos minutos de primeira divisão nas pernas. 
Se para Cláudio Ramos, é provável que esteja destinada a sombra de Marchesin, Carraça irá lutar directamente com Manafá por um lugar no onze titular. E apesar de não serem jogadores com grande capacidade técnica nem que empolguem sobremaneira os adeptos, são elementos que Sérgio Conceição não dispensa nos seus planteis. 

Com efeito, os Dragões estarão muito limitados no mercado de transferências devido às restrições financeiras existentes. Provavelmente só depois de serem definidas as saídas de alguns jogadores poderá ser possivel avançar para outro tipo de contratações de maior "nome". Fala-se em Alex Telles, Danilo, Marega e alguns dos jovens da "cantera" portista para abandonar o Dragão, estando Fábio Silva, Tomás Esteves e Diogo Leite na linha frente. Com estes últimos dois nomes, a administração da SAD espera garantir um encaixe financeiro interessante sem que se percam titulares indiscutíveis (tanto Tomás como Diogo são jovens com um potencial tremendo mas não se afirmaram no onze de Conceição). 

E é nesta situação que o treinador português entra para mais uma época, numa altura que vê o principal rival a reforçar-se de forma bastante agressiva, com nomes sonantes do futebol europeu e mundial. 
Mas não se pense que será isso a apoquentar Sérgio Conceição. Já foi mais que provado que o treinador do Porto consegue fazer omeletes com muito poucos ovos. Esta época é mais uma vez prova disso. Com um plantel sem a qualidade de outros tempos mas um modelo de jogo baseado na força e capacidade física dos seus jogadores. Não vislumbro um onze cheio de artistas, mas sim de trabalhadores de fato-macaco que deixam tudo em campo. Mais que a força da técnica, temos a técnica da força. Marega, Soares, Zé Luis, Manafá, Uribe, Loum, são todos jogadores de grande rotação e que para a realidade do campeonato português "chegam e sobram" além de garantirem competitividade na Europa. 

O futebol é um jogo de homens, que devem ser comandados e cumprir um plano traçado. Há planos mais apelativos, com futebol mais rendilhado, mais "alegre". Outros mais "cínicos", menos vistosos e muitas vezes bastante eficazes. É este, para mim, o modelo de Conceição. Onde jogadores como Nakajima e o próprio Luis Diaz (durante uma parte da época) são relegados para o banco em troca de uma ideia de colectivo.
E por muito que os adeptos possam por vezes não gostar, a verdade é que no final das contas, acabou por trazer títulos. 

Mas com isto não quero dizer que serão assim as equipas de Sérgio. Há que saber trabalhar com o que se tem e ser humilde o suficiente para reconhecer que nem sempre poderemos implementar as ideias mais vistosas em jogadores menos dotados. Talvez, isso sim, adaptar essas ideias ao material humano existente e tentar maximizá-lo ao máximo. Foi isso que fez Conceição. E acredito que será isso que fará também este ano. Com mais ou menos reforços, com mais ou menos qualidade no plantel, o Porto será um conjunto ultra-competitivo, com uma mentalidade vencedora e o querer característico do seu líder. 

Poderemos apontar muitos defeitos ao treinador do Porto. Poderemos dizer que o futebol apresentado não é o melhor. Mas não podemos negar que é eficaz e utiliza as melhores qualidades dos seus jogadores para a ideia de colectivo. Assim, até o mais fraco dos jogadores se torna forte. 

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